quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Comuna de Paris: estória de uma classe, parte 1

O ano era 1871, o exército francês, liderado pelo Imperador Napoleão III, perdera vergonhosamente a guerra contra a Prússia. Boa parte do exército francês encontrava-se sob custódia prussiana, inclusive o próprio Napoleão, que já não era mais imperador; a república havia sido proclamada em Paris. Desde agosto de 1870 empoleirados no palácio do governo estavam os maiores burgueses e nobres da França, juraram para o povo de Paris que jamais o exército prussiano entraria em Paris, nem que lhes custasse a vida. Mas desde o início a traição já havia sido planejada, entregaram Paris para salvar suas fortunas, seus status; fariam o povo pagar a conta da guerra, só precisavam descobrir como. Enquanto o exército era formado pelas classes médias, e seu alto escalão pelos mais tradicionais nobres, a guarda nacional parisiense era quase completamente formada pelos trabalhadores pobres. A população estava armada para lutar contra os invasores estrangeiros, não imaginavam terem de lutar contra seus próprios compatriotas.
A população parisiense já havia agüentado vários golpes, trabalhavam para sustentar um exército que não os defendia, os prussianos já estavam acampados nos arredores da cidade, não entravam pois temiam a população armada. O Governo Provisório estava assentado em Versalhes, onde reuniam a corja reacionária francesa. Parte do exército francês também estava acampado a margem da cidade sitiada, a população lhes alimentava.
Thiers, o chefe da república traidora, tinha vendido Paris e precisava entregar, para isso sabia que teria de desarmar a população, pois eles jamais se renderiam aos invasores. O golpe fora tentado na noite de 17 de março, as tropas do exército que estavam acampadas na entrada de Paris, entraram pela cidade no meio da madrugada para recolher os canhões da Guarda Nacional, pela manhã ainda não tinham conseguido levar-los.
A população acorda para mais um dia de trabalho e percebe rapidamente o que esta acontecendo. As mulheres cercavam os soldados tentando os impedir, houve-se o toque da Guarda Nacional, em poucos minutos centenas de trabalhadores estão nas ruas empunhando seus fuzis com gritos de viva a república. Na colina de Belleville, um desses trabalhadores é Auguste Joulon, um simples operário que tinha pouco estudo, mas que sabia muito do que fazia. Sabia que a situação era crítica, e não desejava lutar contra seus semelhantes que estavam com outro uniforme. Acompanhado de seu filho mais velho ele levanta a coronha de seu fuzil e começa uma marcha ate o alto da colina. Outros trabalhadores seguem seu exemplo e com a coronha de seus fuzis para cima, mostrando que não atacariam os soldados, conclamam os soldados a se juntarem a eles e não levarem os canhões.
Muitos dos soldados que estavam ali para levar as armas da população também eram trabalhadores, que tinham se filiado ao exército para tentar defender a França. Eles tinham sido alimentados pela população parisiense por semanas, não desejavam lutar contra eles. Ao verem aqueles trabalhadores de peito aberto chamando-os para juntarem-se a eles e defender a República, defender Paris da traição de Versalhes, os soldados aderiram a marcha e com os fuzis para cima engrossavam o volume da população que subia ate os canhões.
No final da subida, centenas de pessoas se deparam com um general, seus oficiais e alguns soldados. Os trabalhadores pedem que sigam o exemplo dos outros soldados e desistam de levar os canhões. O general ordena que seus soldados abram fogo contra a população e prendam os desertores. A ordem não é acatada, o general é que fora preso, e aos gritos de “Vive La Commune” as armas da população são salvas. O povo confraterniza e sabe que agora a cidade é deles, e precisam colocar-la para funcionar.

Um comentário:

  1. Oswald de Andrade disse que o historiador conta o que ouve e não o que houve. A primeira vez que escutei essa frase, odiei. Mas logo ela foi fazendo mais sentido, por ser contrária a uma história que tenta buscar uma verdade absoluta, o que de fato não é possível. O perambulo todo foi apenas para dizer o quão significativa é a história auxíliada da literatura, e o quão profunda é a literatura que trata da história. Texto escrito de maneira envolvente. Muito bom, espero a 2º parte!
    (:

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