quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Nostalgia pouca é bobagem

Muitas das pessoas que são admiradas na sociedade são vistas como “a frente de seu tempo”. São pessoas do futuro, – eles dizem – pensam a frente. Sabemos muito bem que essas pessoas não são exatamente do futuro, apenas não ficam tão grudadas às imposições da sociedade, tendem a se libertar um pouco mais.

Mas esse não era o caso de Adalberto, não que ele fosse uma pessoa presa aos padrões da sociedade, muito pelo contrario. Ele não era uma pessoa a frente de seu tempo, isso ele não era mesmo. Adalberto era um cara atrás de seu tempo, ele não se dava de jeito nenhum com a época em que vivia, não gostava mesmo. Por isso ele escolheu outra época para viver.

Ele não compreendia aquele mundo maluco, onde tudo mudava sempre e sempre, onde o que era legal num dia, no outro era “podre” e depois voltava a ser “cool”. Ouviu ate uma música sobre um cara que mudava de forma toda hora, e mudava junto de opinião, metamorfoseava-se, essa era a palavra da música. Adalberto não gostava de nada disso, quando ele gostava de alguma coisa, gostava mesmo, não deixava de gostar só porque estava fora de moda, e nem começava a gostar porque era popular.

Assim, ele era bem diferente de todos à sua volta, isso ocasionava muitos problemas ao garoto. Perto da adolescência, quando decidiu que queria viver em outra época, ainda não sabia em que época queria viver, apenas não houvera de ser aquela. Sua mãe achava muito estranho o garoto aparecer de modos completamente diferente de tempos em tempos. E dizia “Essa moçada de hoje em dia não sabe o que quer”, e Adalberto respondia sempre com um “Não sou de hoje em dia mãe”. Já seu pai, um cara muito legal e com um espírito sempre jovem, incentivava o garoto, e dizia para sua esposa “Deixa o menino Raquel, deixa ele se encontrar”. Carlos, o pai de Adalberto, sempre o levava a museus e antiquários para lhe mostrar as coisas de outra época que ele tanto gostava.

Mas logo o garoto se encontrou, Adalberto percebeu que o que ele gostava de verdade era de sua infância, gostava dos anos 80. Naquela época, dizia ele, as coisas eram muito mais batutas. Ele percebeu que conforme crescia seus amigos foram se transformando, de acordo com as mudanças da sociedade. Mas ele não gostava dessas mudanças, foi quando decidiu que não gostava daquela época, e acabou perdendo o contato com seus amigos. Cada vez mais ele entrava nos anos 80, passava as tarde assistindo filmes como “Clube dos Cinco” e “Conta Comigo”, conseguiu também os desenhos daquela época, e não se importava se eram repetidos, ainda assim eram muito melhores do que os que passavam na televisão.

Adalberto também se vestia como se estivesse nos anos 80, pois pra ele, estava mesmo; não se importava que o resto do mundo já tinha passado da virada do século. Ele continuava a ser um cara descolado, com sua jaqueta jeans surrada, calças rasgadas e um walkman amarelo da Sony, onde ele escutava punk, hard rock e pós-punk. Entristecia-se ao saber que nunca iria ver a maioria de seus ídolos.

E assim ele passou sua adolescência, sem muitos amigos, pois todos o achavam muito estranho, maluco, diziam alguns; algumas garotas da escola falavam que ele era “retrô”, ele nem mesmo sabia o que era isso. Mesmo assim Adalberto não foi um jovem infeliz, o mundo que escolheu viver era acolhedor. E quando terminou a escola tinha certeza do que ia fazer, era óbvio, História, não teria como escolher outra coisa. Era o que ele mais desejava, uma profissão onde pudesse continuar a viver em seu mundo, sem ter que se adequar as maluquices do século XXI. Bom, não foi bem o que ele encontrou. Na faculdade ele passou a se enturmar um pouco mais, claro, lá ser diferente é que é legal. Mesmo assim ainda tinha gente que não gostava dele, a maioria eram uns caras com camisetas vermelhas e a estampa de um cara morto; o chamavam de reacionário. Enfim, a faculdade acabou e Adalberto agora tinha que arrumar um emprego.

No entanto, nisso ele teve sorte, os anos 80 viraram moda e hoje Adalberto trabalha num museu sobre o tema e é visto como um cara “super-prafrentex”. No entanto ele continua o mesmo, quando a moda passar ele vai ser o velho cara esquisito de sempre, e Adalberto ainda não entende esse mundo maluco.

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