Até Tu Brutus
Henrique era um homem comum, em nada se destacava na multidão. Um cidadão de classe média que tinha esposa, um filho e morava num apartamento pequeno e aconchegante na cidade de São Paulo. Ele não tinha grandes opiniões formadas sobre assuntos polêmicos e nem pretensas ideologias. Ele queria apenas viver uma vida confortável e pacata com sua família e amigos até que a morte o levasse para o desconhecido.
E foi exatamente isso o que aconteceu, a morte chegou para Henrique, apenas um pouco antes do que esperava. E assim como ele acreditava, tal espírita que era, a morte não era o fim, apenas uma mudança na forma, um outro tipo de vida. Só não era o que ele imaginava ser, na verdade era bem diferente.
Henrique tinha acabado de chegar do trabalho, e já na entrada notou algo diferente do costumeiro, não sentiu o cheiro do jantar. Ao passar pela sala viu sua esposa aflita em frente à televisão, nem mesmo percebeu sua chegada. Ao indagar a esposa o que acontecera logo foi puxado para frente da TV. Na tela um tele jornal, e edição extraordinária, falava de uma epidemia que se espalhava rapidamente nos EUA. Não se sabia ao certo que doença era aquela, os repórteres apenas alertavam quanto à transmissão muito rápida da doença.
Ele não deu muita bola não, disse que era coisa de americano, e que só queriam assustar as pessoas; e mesmo que fosse verdade, essa doença não chegaria até o Brasil. Ele não poderia estar mais enganado. De qualquer forma, Henrique continuou levando sua vida como sempre. Ouviu falar que a doença continuava se espalhando, que chegara a America Latina, mas dai então não ouviu mais nada, nenhuma notícia chegava dos EUA. Ele não se preocupou mais. Outra semana passou e então ele começou a receber notícias verdadeiras e mais completas sobre a doença. Aparentemente ela fazia com que as pessoas morressem rápido, devido à infecção e febre, e que já se alastrava pelas maiores cidades do país.
Mas como assim, Henrique morava em São Paulo, e não tinha visto nada de estranho. Naquele dia, ao chegar do trabalho, sua esposa disse que seu filho estava com febre alta, tinha chegado assim da creche. Ele tentou baixar a febre do filho, mas o garoto não respondia aos medicamentos. No hospital o caos era completo, o lugar estava repleto de pessoas com essa febre, alguns jogados nos corredores, pois os leitos já não eram suficientes. De repente gritos: UM DELES ESCAPOU! CUIDADO, CUIDADO! E Henrique o viu, andava devagar, parecia não ter rumo, até que atacou uma outra paciente que esperava no corredor. O homem mordeu a mulher, arrancou-lhe um pedaço do braço e começou a mastigar. Nesse momento o segurança chegou para dominá-lo, mas acabou sendo mordido também. Todos são levados para uma outra sala. Em poucos minutos um médico e dois enfermeiros saem correndo e o segurança que havia sido mordido caminhava atrás deles.
Neste momento sua esposa volta desesperada, gritando que seu filho tinha morrido. Henrique faz força para manter um mínimo de sanidade ao ver o corpo de seu filho de cinco anos nos braços de sua esposa. Já em desespero Henrique toma-o em seus braços e corre para além da sala de espera onde estava, na esperança de encontrar um médico e salvar a vida de seu filho. Correndo com a criança nos braços para dentro do hospital bate de encontro com o segurança que na mesma hora vai ao chão. Henrique sem se preocupar e nem mesmo olhar direito para o homem que ele havia derrubado, continua correndo a procura de um médico. Se tivesse olhado para o segurança no chão teria visto que ao cair ele agarrou a perna de uma mulher que passava e a mordeu, fora a aparência putrefata do segurança. Mas nem mesmo o grito da mulher ele ouviu.
Correndo desesperado ele encontrou uma sala vazia e colocou seu filho em um dos leitos. Tentava reanimá-lo de todas as formas, gritava por ajuda médica, mas ninguém o atendia. Começou a chorar sobre o corpo do filho na cama perguntando a Deus porque fazia isso com ele. Então Henrique sente que seu filho voltava a se mexer, olhou para ele e o garoto estava com os olhos abertos. Uma alegria tão grande preencheu seu corpo que ele nem mesmo reparou no aspecto estranho da criança. Apenas o abraçou, chorando e dando graças a Deus por devolver seu filho.
Sentiu, assim, uma mordida em seu pescoço. Assustado afastou o garoto de seu corpo e ele mastigava a carne do próprio pai. Henrique percebera agora o que estava acontecendo, perdeu as forças e foi ao chão. Seu filho, já em outro estagio da “vida”, rolou por metade do quarto com o impulso da queda de seu pai e, assim que pode levantou-se para ir atrás das pessoas que passavam correndo na porta.
Algum tempo depois Henrique também levantou, mas já não era o mesmo. Já não sentia a perda do filho, nem mesmo lembrava dele, nem da esposa. Tudo o que sentia era uma fome imensa, uma vontade incontrolável de comer carne humana.
Muito bom o conto! Peguei o link por indicação do MRG e vou recomendar também. Ponto de vista bastante inovador e história bem realista sem pretensão de heroísmos.
ResponderExcluirE não esqueçam de ler a segunda parte, hehe http://agresteurbano.blogspot.com/2010/12/o-andarilho-parte-2.html
ResponderExcluirobrigado
Aee parabens pela indicação no MRG!!!
ResponderExcluirMuito bom Pernilongo ;)
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