segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Um caso complicado

Um homem, esguio mas de boa aparência, adentra a chefatura de polícia com uma expressão estranha no rosto, parecia meio transtornado. Aquele ambiente não lhe agradava, sentia-se incomodado com tantos agentes da “lei” a sua volta; mas não sabia mais como lidar com aquela situação, aquele era seu último recurso. Tinha pensado em fazer justiça com as próprias mãos, mesmo não tendo ideia de como. O crime que lhe haviam infligido era comum, no entanto as pessoas pareciam não se importar com o fato. O homem sentia-se perdido sem o que lhe fora roubado, não que fosse sua posse, contudo, não os ter lhe fazia muita falta.

Na delegacia ele não sabia direito aonde ir, com quem falar. Primeiro esperou sentado no que parecia ser uma fila, que demorou mais em sua cabeça que no relógio. Não falou uma palavra sequer com as outras pessoas que estavam a sua volta também a esperar na fila para serem atendidos, parecia ser um homem solitário. Até que enfim chegou sua vez, num balcão de madeira já surrado pelo tempo, foi atendido por um policial gordo e com a cara de quem não tinha tido uma boa noite de sono. Mesmo sentado a frente do computador, em uma tarde agradável, o policial suava, a camisa manchada era visível.

- Qual a sua queixa?

- Eu fui roubado, e quero que as assaltantes sejam presas.

- Assaltantes! Então é uma quadrilha? Perguntou espantado o policial.

- Deve ser senhor, pois tudo o que me roubaram tinha igual valor para mim, e me eram de muita estima.

- Vamos registrar um boletim de ocorrência, o senhor disse que são várias as meliantes?

- Sim.

E todas elas lhe roubaram coisas parecidas?

- Não eram bem coisas, mas sim, eram parecidos.

- Como assim não eram coisas? Como podem roubar algo que não é uma coisa? O que lhe roubaram afinal? Na face do policial uma expressão de quem não compreendia direito o que ocorria, e já achava que o homem a sua frente estava de sacanagem.

- Roubaram meus amigos senhor. Falou o homem com uma voz pra dentro, como se não soubesse direito o que estava fazendo ali.

- E o que roubaram dos seus amigos? Porque eles mesmos não vieram aqui dar queixa?

- Não senhor, meus amigos não foram roubados. Roubaram meus amigos, quatro só neste ultimo ano.

- O senhor esta de gozação?

- Não senhor, é sério. Posso lhe dar o endereço das ladras. E lá o senhor também vai encontrar meus amigos, eles estão sendo mantidos sob custódia.

- Então não é roubo, seus amigos foram sequestrados. Não é isso?

- Não, o senhor não esta me entendendo, vou tentar explicar melhor. Eu tinha vários amigos, andávamos sempre juntos, nos divertíamos, amigos de verdade. E um a um eles foram sendo levados por essas mulheres que os mantém trancafiados. Eles até aparecem de vez em quando, mas sempre com as assaltantes, como se tivessem uma amarra presa a seu pé.

- Olha aqui - falou o policial levantando-se da cadeira e também seu tom de voz - eu não estou de bom humor hoje não. Você pode dar meia volta e sumir daqui antes que eu lhe ponha no xadrez.

- Mas policial, o senhor não vai me ajudar?

- Já disse, tem outras pessoas querendo ser atendidas, não vou falar de novo. Fora daqui se não quiser passar a noite atrás das grades.

O homem então virou-se desanimado, dando as costas para o balcão e para o policial gordo, que se sentava novamente para dar continuidade a burocracia que lhe cabia. Cabisbaixo o homem, que se sentia sozinho pensava: sabia que esses coxinhas malditos não me ajudariam, não sei porque diabos vim aqui. Saindo dali passou num bar, e com uns reais a menos e umas garrafas a mais estava decido a recuperar seus amigos.

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