libertas quae sera tamen - Parte 2 de 2
A floresta era fantástica, de cara era notável grande
diferença daquelas do outro lado do mar. Parecia ter muito mais vida, sons de
animais por todos os lados, principalmente de pássaros, pequenos primatas
corriam pelas árvores para observar o recém chegado. Com certeza passaria muito
tempo ali para pesquisar todas aquelas novas formas de vida que não conhecia.
Procurou um lugar para formar uma base, andou em direção a montanha que tanto
lhe tinha impressionado, ela não podia ser vista de dentro da mata fechada, mas
a direção era conhecida. Depois de algumas horas de caminhada, alcançando o
sopé da grande montanha Joroln maravilhou-se novamente, uma árvore estrondosa,
se erguia maior e mais bela do que todas as outras, como uma rainha entre as
outras, soberana na floresta. Sem a menor dúvida era ali que iria morar
enquanto fazia suas pesquisas pela área, a árvore lhe proporcionaria o abrigo e
o conforto necessário.
Toda aquela
sensação de ligação que os outros elfos tem com as árvores, que há algum tempo
tinha se passado, voltara imediatamente ao contato com aquela árvore
maravilhosa, mãe daquela floresta, que representava toda a natureza do lugar.
Iniciou o reconhecimento e a catalogação da fauna e da flora, ainda não tinha
subido muito na montanha, que inicialmente tinha lhe encantado tanto. Ficava
bem próximo a ela, onde agora morava, meses se passaram e Joroln não percebia o
tempo passar. Também não percebeu que cada vez mais sua relação com ela se
aprofundava, ele podia sentir seu espírito, se integrar com a natureza da
floresta através dela.
O elfo e a
árvore se completavam, não só Joroln se sentia bem, mas ela tambpem se alegrava
com a presença dele. Um fazia bem para o outro, e toda a floresta exalava vida
como nunca. A harmonia era perfeita entre os dois seres, mesmo sendo ele tão
diferentes.
Inicialmente
a pesquisa ocupava todo seu tempo durante o dia, e a noite voltava para seu
refugio descansar e organizar as ideias. Planejou conhecer mais sobre o
ambiente da mata antes de escalar a montanha, mas esse plano não deu muito
certo. Depois dos primeiros meses, cada dia que passava a pesquisa de campo
tomava menos tempo, todo o resto acabava por esquecido enquanto sua relação com
a árvore chegava a um ponto transcendental. Aos poucos foi esquecendo do porque
estava ali, sentia-se completo somente por estar onde estava, não movia-se para
longe de sua morada, o mínimo necessário para conseguir água e alimento, Joroln
parecia estar em transe, mas se sentia bem como estava.
Três anos
se passaram desde sua chegada àquela terra, o elfo se encontrava totalmente
diferente do momento em que aportou na praia a quilômetros de onde residia
agora, nem mesmo se movia para fora da árvore, ficava dias sem colocar sequer o
pé no chão, se alimentava das folhas e da casca, bebia a seiva, estava magro e
doente, definhava. A árvore também sentia os danos, sua imponência tinha se
apagado, as folhas não mais brilhavam, a raiz estava fraca e, juntamente com Joroln
caminhavam para a morte. Toda a floresta sentia as dores, os animais eram cada
vez menos frequentes, as outras plantas murchavam, como que seu espírito
estivesse sendo sugado.
A situação
chegou a um ponto que o elfo desmaiou, desnutrido e desidratado em cima da
árvore, a força vital fugia de seu corpo, que permanecia preso ao que antes era
sua vida, e estava quase se tornando seu tumulo. Dias se passaram e a morte só
não chegou porque até mesmo seu espírito se negava afastar-se dali. Seu corpo
inerte escorregou pelo tronco e bateu com força no chão, nem mesmo assim não
recobrou a consciência, que só voltou com uma chuva torrencial que atingiu a
floresta. A água fria molhava seu rosto e ao mesmo tempo escorria pelo chão,
por debaixo dele, e aos poucos aquilo o trouxe de volta, com dificuldade
levantou enquanto a chuva ainda caia em seu rosto. Olhou para ela, também quase
morta, teve vontade de subir de novo, mas percebeu a realidade da situação, viu
a árvore que tanto adorava quase morta, e percebeu-se ainda pior, e todo o
ambiente em volta parecia moribundo, sabia que deveria partir, mesmo estando em
péssimas condições, tinha que se afastar.
Pegou
algumas poucas coisas ali pelo chão mesmo e com o resto das forças que tinha
seguiu em sua missão, foi em direção à montanha. Olhou para traz já com saudade
e a certeza da experiência única em sua via. Tinha em sua mente a incrível
relação que construiu com aquele ambiente, centralizado na árvore, inicialmente
sentindo-se o mais feliz dos elfos, mas que com o tempo se tornou maléfica para
ambos os lados. Conseguiu se libertar do transe e sentia-se outra vez livre.
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